Paralisia por picada do carrapato é uma doença rara,
caracterizada por paralisia flácida aguda ascendente que
é frequentemente confundida com outras condições ou
doenças neurológicas (ex., síndrome de Guillain-Barré ou
botulismo). Acredita-se que a paralisia seja causada por
uma toxina na saliva do carrapato; a paralisia
normalmente resolve em 24 horas após a remoção do
carrapato. Durante o período de 26 a 31 de Maio de 2006,
o Departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente do
Colorado receberam relatórios de quatro casos recentes
de paralisia por picada de carrapatos. Os quatro
pacientes moravam (ou visitavam alguém) a uma distância
de não mais que 32,187 Km um do outro nas montanhas do
centro norte do Colorado. Este relatório sumariza os
quatro casos e enfatiza a necessidade de intensificar o
alerta sobre paralisia por picada de carrapato entre os
profissionais de saúde e pessoas em áreas infestadas por
carrapatos.
Caso
1.
No dia 15 de Maio uma menina de 6 anos da região de Weld
County acordou com sintomas de fraqueza bilateral das
extremidades inferiores. Ela foi à escola como sempre,
mas necessitou de auxílio de uma amiga para sair ao
pátio de recreio,onde caiu e foi incapaz de se levantar.
Sua mãe a levou a um ambulatório clínico, foi marcada
uma consulta com um neurologista para o dia seguinte.
Ela acordou no dia seguinte com uma sensação de
formigamento nas mãos e pés, e incapacidade de sentar ou
manter-se de pé sozinha, e também com dificuldades de
deglutição. Ela foi levada a uma clínica de emergência e
foi transferida para o hospital infantil regional. Um
exame físico revelou oftalmoplegia (ou seja, paralisia
de músculos controladores dos movimentos oculares,
disartria (ou seja, fala incompreensível) e arreflexia
(ou seja, ausência de reflexos neurológicos); estudos da
condição nervosa indicaram velocidades reduzidas. A
menina foi admitida na UTI no dia 16 de Maio com
diagnóstico presuntivo de síndrome de Guillain-Barré, e
subsequentemente necessitou de intubação. Na noite de 17
de Maio, uma enfermeira que estava banhando a menina
encontrou um carrapato em sua nuca. Os investigadores
souberam depois que havia sido visto um carrapato no
imageamento por ressonância magnética da cabeça da
menina na manhã daquele dia. O carrapato foi removido
imediatamente, e os sintomas da menina melhoraram; ela
teve alta 1 semana mais tarde. O carrapato foi
identificado como uma fêmea de Dermacentor andersoni.
A menina visitava a sua avó com frequência nas montanhas
do município Larimer County fazia caminhadas na área com
frequência. Sete dias antes do aparecimento dos
sintomas, a menina havia visitado sua avó e brincou ao
ar livre no jardim.
Caso
2.
No dia 22 de Maio um homen de 86 anos das montanhas de Larimer
County começou a ter dificuldade progressiva de se
manter de pé e de entrar e sair de sua motocicleta. O
homem era de hábito caseiro devido a uma polineuropatia
crônica e fraqueza devido a uma estenose espinhal. Na
manhã seguinte, sua fraqueza piorou, e ele estava
incapaz de caminhar com apoio. Ele chamou a emergência e
foi admitido no hospital local com um diagnóstico de
piora progressiva de sua neuropatia crônica. O exame
físico revelou função normal do nervo craniano, mas
fraqueza generalizada; reflexos tendinosos profundos
estavam ausentes. Na noite do dia 23 de Maio, uma
enfermeira que o trocava suas roupas notou um carrapato
em suas costas. Após a remoção do carrapato seus
sintomas melhoraram durante os quatro dias seguintes, e
ele teve alta no dia 27 de Maio, embora 2 semanas mais
tarde ele não tenha se sentido recuperado de sua
condição inicial. O homem não relatou nenhuma viagem
recente ou permanência ao ar livre, com exceção às
visitas diárias à sua caixa postal usando sua
motocicleta. Ele tinha um cachorro que estava senpre
saindo, e ele acreditava que ele seria a fonte provável
do carrapato; o cachorro não tinha sinais da paralisia
por picada do carrapato.
Caso
3.
No dia 22 de Maio, uma mulher com 78 anos de idade das
montanhas de Grand County teve fraqueza generalizada e
dificuldades para caminhar. Durante os dias seguintes,
seus sinais e sintomas progrediram para fraqueza facial,
fala incompreensível, perda de paladar e confusão.
Enquanto a mulher se preparava para ir ao hospital no
dia 25 de Maio, sua companheira notou um carrapato em
seu pescoço abaixo da nuca. O exame físico no hospital
revelou função normal do nervo craniano e ausência de
fraqueza importante, mas a paciente apresentou reflexos
tendinosos profundos diminuídos. O médico do hospital
removeu o carrapato cortando o tecido em volta com um
bisturi. O paciente teve alta para recuperar em casa. O
paciente subsequentemente relatou que dentro de 24 horas
sua fraqueza, alteração do paladar e confusão haviam
sido resolvidos; entretanto, 3 semanas após a alta, ela
ainda se cansava facilmente. A mulher relatou que ele
caminhava ao ar livre diariamente.
Caso
4.
Um homem com idade de 58 anos do distrito de Larimer
County com uma história de insuficiência renal crônica
viajou para o Sul do Texas no dia 20 de Abril. No dia 24
de Abril ele teve uma sensação de formigamento nas mãos
e dormência perioral. Três dias mais tarde ele caiu
quando tentava ficar de pé e foi incapaz de se levantar.
Quando sua esposa tentava levantá-lo do chão, descobriu
um carrapato em suas costas. Ela retirou o carrapato
antes de transportá-lo ao hospital local. Ele foi
transferido e admitido em uma unidade de tratamento
intensivo, mas não precisou de intubação. Várias horas
após, ele recuperou os sentidos nas mãos e foi capaz de
andar sem ajuda. Ele teve alta no dia 5 de Maio, mas 6
semanas mais tarde ele ainda se queixava de fraqueza
subjetiva residual. O paciente relatou que
frequentemente fazia trabalhos de jardinagem e várias
atividades recreacionais ao ar livre.
Rlatado por:
WJ Pape, K Gershman, MD, Departamento de Meio
Ambiente e Saúde Pública de Colorado.
WM
Bamberg, MD, EIS Officer, CDC.
Nota do Editor:
Os quatro casos descritos neste relatório ilustram a
importância de se considerar a paralisia por picada do
carrapato no diagnóstico diferencial de pessoas com
paralisia ascendente que vivem ou visitam regiões
endêmicas de carrapatos. O diagnóstico é confirmado pelo
achado de um carrapato aprofundado na pele e pela
observação de sinais de melhoria após a retirada do
carrapato; não há outro teste para confirmar a paralisia
pela picada de carrapatos. Embora raros, os casos de
paralisia pela picada do carrapato têm sido
identificados no mundo inteiro; a maioria dos casos na
América do Norte ocorrem nas regiões ocidentais do
Canadá e nos Estados Unidos. As espécies mais
frequentemente associadas com a paralisia pela picada do
carrapato nos Estados Unidos e Canadá são o carrapato da
madeira da Montanha Rochosa (D. andersoni) e o
carrapato do cachorro Americano (Dermacentor
variabilis); entretanto, 43 espécies de carrapatos
têm sido implicados em doença humana no mundo (1).
A maioria dos casos norteamericanos de paralisia pela
picada do carrapato ocorrem nos meses de Abril a Junho,
quando as formas adultas do Dermacentor emergem
da hibernação e procuram ativamente pelos seus
hospedeiros (2).
Acredita-se que a paralisia pela picada do carrapato
seja causada pela toxina secretada na saliva do
carrapato durante a alimentação, que reduz o potencial
de ação de neurônios motores e a ação da acetilcolina,
dependendo da espécie do carrapato (1,3). O
aparecimento do sintoma normalmente ocorre após 4 a 7
dias da alimentação do carrapato. A paralisia flácida
ascendente progride por várias horas ou dias; a perda
sensorial normalmente não ocorre, e a dor é ausente (4,5).
A resolução dos sintomas normalmente ocorre dentro de 24
horas a partir da remoção do carrapato. Quando o
carrapato não é removido, a taxa de mortalidade
resultante de paralisia respiratória é de
aproximadamente 10% (6,7).
Embora a paralisia pela picada do carrapato não seja uma
doença monitorada no Estado, o Departamento de Saúde
Pública e do Meio Ambiente do Colorado recebe em média
um relado de um caso por ano. O agrupamento de casos
geográficos e temporais descritos neste relatório é
incomum. Não há explicação para este agrupamento; o
risco de adquirir a paralisia pela picada do carrapato
tem tido ampla distribuição no oeste dos Estados Unidos
e Canadá.
Os casos descritos neste relatório também diferem em
outros aspectos de relatórios anteriores. Por exemplo, a
maioria dos pacientes têm sido de crianças,
especialmente meninas (2,7). Entretanto, neste
agrupamento, apenas um paciente era uma criança, e dois
pacientes eram idosos >70 anos. Os carrapatos removidos
de todos os quatro pacientes estavam no pescoço ou nas
costas; em relatos de casos anteriores de paralisia pela
picada do carrapato, estes estavam predominantemente na
cabeça e pescoço (7). Embora a exposição ao ar
livre, como a caminhada ou acampamento em áreas
arborizadas, esteja normalmente associada com a
paralisia pela picada do carrapato, um dos quatro
pacientes era de vida caseira, com exposição ao ar livre
limitada.
Trabalhadores da área de saúde descobriram os carrapatos
incidentalmente em dois dos pacientes, cujas condições
receberam diagnósticos alternativos. Os profissionais de
saúde devem considerar um diagnóstico de paralisia pela
picada de carrapatos para qualquer paciente morando ou
visitando uma região endêmica de carrapatos que tenham
paralisia simétrica aguda e devem realizar um exame
completo para a detecção de carrapatos, especialmente na
cabeça, pescoço e costas. Os carrapatos devem ser
removidos segurando os mesmos perto da pele do paciente
com uma pinça puxando-o com um movimento preciso e com
pressão uniforme (8). Pessoas em áreas endêmicas
de carrapatos devem ser educadas com relação a doenças
transmitidas pelos carrapatos e devem fazer buscas
rotineiras por carrapatos após possíveis exposições aos
mesmos. Repelentes de insetos devem ser usados na pele,
e acaricidas contendo permetrina devem ser espalhados
nas roupas para impedir as picadas por carrapatos.
Informações adicionais com relação à pervenção de
doenças transmitidas pelo carrapato estão disponíveis em
http://www.cdc.gov/ncidod/ticktips2005.
Agradecimentos
Este relatório é baseado em parte nas contribuições de S
Rubaii, MD, Granby Medical Center, Granby; AC Nyquist,
MD, The Children's Hospital, Denver; V Lambiase, Estes
Park Medical Center, Estes Park; e R Grossmann, Larimer
County Dept of Health and Environment, Fort Collins,
Colorado.
Referências
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Gothe R, Kunze K, Hoogstraal H. The mechanisms of
pathogenicity in the tick paralyses.
J Med Entomol 1979;16:357--69.
-
Dworkin MS, Shoemaker PC, Anderson D. Tick
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1946--1996.
Clin Infect Dis 1999;29:1435--9.
-
Felz MW, Smith CD, Swift TR. A six-year-old girl
with tick paralysis.
N Engl J Med 2000;342:90--4.
-
Spach DH, Liles WC, Campbell GL, Quick RE, Anderson
DE Jr, Fritsche TR. Tick-borne diseases in the
United States. N Engl J Med 1993;329:936--47.
-
McCue CM, Stone JB, Sutton LE. Tick paralysis: three
cases of tick (Dermacentor variabilis Say)
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Pediatrics 1948;1:174--80.
-
CDC. Tick paralysis---Wisconsin. MMWR
1981;30:217--8.
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Schmitt N, Bowmer EJ, Gregson JD. Tick paralysis in
British Columbia.
Can Med Assoc J 1969;100:417--21.
Needham GR. Evaluation of five popular methods for tick
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Pediatrics 1985;75:997--1002.
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